O Solar

Em local pouco central, um tanto a Nascente e Norte da Quinta, ergue-se a casa senhorial, de imponente fachada filipina, parcialmente caiada e exposta a Poente.
Uma escadaria central, em pedra, escurecida pelos séculos e revestida por fungos e líquenes, contrastando com o branco das paredes, dá acesso ao andar nobre.
A porta principal, é enquadrada por amplas janelas de sacada, quatro de cada lado.
A pedra de armas, que coroa o edifício, representa o brasão concedido à família da casa por D. Filipe II de Portugal, III de Espanha, em 1604.
O andar térreo, dividido pelo assento da escadaria, mostra lateralmente, duas portas e duas janelas. Aí existiram cavalariças e dependências agrícolas, mas também, quartos e salas, como por exemplo, o escritório – biblioteca do Conde Azevedo (início do século XX).
A fachada Norte mostra no andar nobre, cinco janelas de guilhotina, ornamentadas, de um lado e de outro, por pequenas carrancas destinadas a suporte de vasos floridos, as quais abrem para quartos e sala de jantar.
A fachada Nascente, em linha quebrada, vira-se, parcialmente, para um típico quinteiro, para o qual se abrem, também, vários anexos, delimitando um espaço fechado.
Avultam aí a casa dos lagares, o alambique, as antigas cortes do gado, uma cozinha térrea, depósitos para lenha, adegas, uma casa de caseiros e um antigo pombal, hoje adaptado a quartos e datado de 1741.
No interior do corpo principal da casa, são de realçar os salões que ocupam a sua parte média, a sala de jantar exposta a Norte e Este, servida por uma cozinha, com tecto em castanho e com uma imponente chaminé colocada a Nascente.
Dos sete quartos do andar nobre são de realçar o que ocupa a esquina NW, conhecido pelo nome de quarto do bispo e outro que dispõe de uma bela lareira em pedra, ornamentada ao gosto barroco.
O acolhedor quinteiro, rodeado pelo edifício principal e seus anexos, serve como local de convívio, em redor do qual as principais actividades domésticas e agrícolas, em tempos passados, estavam centradas.
Para ele se vira a cozinha rústica, dotada de lareira e dois fornos de lenha para pão, um dos quais de invulgares centradas.
Nela se preparam ainda, os célebres anhos e cabritos com arroz, iguarias máximas da culinária loca, bem como os presuntos, enchidos e outras especialidade baseadas no porco, fumadas na ampla chaminé granítica e conservadas na tradicional salgadeira.
O andar térreo do edifício principal, encontra-se parcialmente adaptado a habitação e zona de lazer.
Algumas paredes mostram sucessivas adaptações, encontrando-se vestígios de chaminés, enquanto, no exterior, se vêem antigas portas em arco.
O conjunto dos dados arquitectónicos e históricos, indiciam a fundação medieval da casa.
A configuração quadrangular da zona hoje ocupada, no andar nobre, pela cozinha, bem como os vestígios arquitectónicos observáveis por baixo dela, sugerem a possibilidade de aí ter existido uma típica torre, talvez um cenóbio da Ordem do Hospital.
Como se sabe, as casas anteriores aos chamados solares, eram em forma de torres, que possuíam, para alem da sua função habitacional, a de defesa. Estas, por diversos modos, foram depois incorporadas nos posteriores solares.
A pouca distância da Quinta do Hospital há conhecimento, por exemplo, da torre dos Vilarinhos, em Badim e da dos Soares, em Tangil.
Embora não tenhamos memória escrita de uma torre no lugar do Hospital, não é de excluir a hipótese de uma construção semelhante, feita pela própria Ordem ou pelos primitivos enfiteutas.
Perpendicularmente ao edifício principal, uma outra ala, paralela à Estrada Nacional 202, foi em tempos, ocupada por uma adega de tecnologia romana, e mais tarde, por cavalariças, cortes para gado, palheiros, nitreiras e garagem, de tudo permanecendo vestígios arquitectónicos, alguns subterrados, como uma cisterna e “canles” em granito.
São de realçar o fontanário que serviu de bebedouro aos cavalos, encimado por uma taça com dois golfinhos, tudo em granito, e o portão de entrada terminado, do lado Poente, por um relógio de sol antropomórfico.
Esta zona, recentemente reconstruída, encontra-se adaptada a salão de festas, bar e cozinha.
Quatro salas do andar nobre estão decoradas por pinturas murais de finais do século XVIII ou princípios do seguinte, ao que parece cópias ampliadas de gravuras, realizadas por artistas locais, de distinto valor.
A sala de jantar apresenta a decoração mais rica, simbolizando as quatro estações do ano, tendo algumas figuras, simultaneamente, significado mitológico: Ceres, Barco e Vulcano. Uma bela decoração floral, encima de um lindo lavabo barroco de pedra granítica.
A sala do lado Sul, mostra motivos clássicos, em que sobressaem reproduções de bustos greco-romanos.
A mais pequena é ornada com motivos musicais, tais como reproduções de instrumentos, sendo, por isso, designada como “sala da música”.
A sala nobre possui no tecto uma boa tela representando um Cupido, um Apolo e um lambrim de tons azuis, talvez influenciado pelas decorações em azulejo do século XVIII, com motivos ingleses, chineses e outros.
A ampla sala central, que dá acesso à escada exterior, tem um belo tecto de madeira, repetindo, no centro, o brasão que coroa a porta principal.